Tanto quanto a leniência exagerada leva à cumplicidade, a tolerância excessiva conduz à anarquia. Não houvesse todo um caldo de cultura a conformar condutas e orientar comportamentos, tendências assemelhadas a irresistível vocação poderiam ser evitadas. Tanto quanto os homens constroem a sociedade, os espaços sociais em que são formados parecem traçar-lhes o destino. O script a seguir parece cobrar deles obediência e fidelidade, afinal manifestadas. É certa a possibilidade de os indivíduos superarem essa prisão a valores e hábitos pouco afeitos à vida civilizada. A convivência democrática sendo exigente da mínima percepção das diferenças entre civilização e barbárie. Ainda ontem, o País assistiu a uma das muitas tentativas de enxovalhamento das instituições republicanas e da agressão à dignidade da população. A forma como mandatários populares trataram o Ministro Flávio Dino, não por acaso da pasta da Justiça, revela a sordidez da horda de bagunceiros que desvirtuaram o que deveria ser a audiência pública para a qual aquela autoridade fora convocada. A justa e rigorosa reação da sociedade e dos três poderes republicanos ao golpe pretendido em 8 de janeiro não bastou aos bárbaros detentores de mandatos eletivos. Por isso, eles persistem na tentativa de inverter as situações e perverter as instituições, mesmo aquela a que pertencem. A qualquer custo, e na impossibilidade pessoal de participar do aperfeiçoamento da democracia incipiente e claudicante, entregam-se à ingrata e condenável tarefa de agredí-la. É de sua vocação, daí a persistência que caracteriza suas ações deletérias. Todo rigor e o mais absoluto respeito à Constituição e às leis é o que os poderes constituídos deverão mobilizar, porque assim o desejam todas as pessoas de bem. Passar panos quentes e deixar passar em branco a vileza agressora que enodoa nossa históris corresponderia ao acumpliciamento com os baderneiros.
Baderneiros
Atualizado: 14 de abr. de 2023
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