Creio que encontraremos tempo para dedicar à compreensão destes difíceis e trágicos dias que vimos vivendo. Desde janeiro de 2019, registram-se no País acontecimentos de que muitos duvidariam, pouco tempo atrás. Saíramos de um período em que as liberdades públicas e os direitos individuais eram zelosamente tratados pelos governantes e ingressávamos, pouco antes e logo depois da derrubada da Presidente Dilma Rousseff, em período marcado pela incerteza. Nada, porém, que se possa dizer debitado a alguma crise surpreendente, no Brasil e no Mundo. A deterioração do ambiente econômico fazia-se sentir em quase todo o Globo, ainda que mesmo a forma do Planeta fosse posta em causa. Assim, enquanto no exterior a palavra de ordem da direita ressentida e odienta encontrou pasto hábil a satisfazer sua voracidade, insistimos nas alianças entre o porco e a galinha. Só sairia daí uma omelete em que muitos morrem, cedendo toucinho, para outros engordarem, a produzir ovos. Começaram, então, a aparecer os tiranetes, montados na crescente percepção de que pouco se tinha avançado em termos de superação dos maiores problemas sociais. Aqui e alhures. Não é sem razão que surgem Erdogan, Trump, Dutarte, Modi, Boris Johnson, Orbán e o atual Presidente do Brasil, unidos na tarefa de destruir tudo quanto se pensava propício à redução da desigualdade no Mundo. Mal nos demos conta de nossa contribuição para o status quo ora em desenvolvimento. Não se diga que à pandemia pode ser atribuído o papel mais destacado no desfazimento das supostas conquistas registradas, especialmente no Brasil, nas últimas décadas. A covid-19 apenas agravou o quadro e acelerou algumas de suas mais transparentes consequências. A timidez - ou terá sido medo só? - em acelerar o combate à desigualdade e aprofundar a democracia entre nós, tem muito a ver com as vicissitudes por que passamos hoje. A presença de multidões nas ruas, apoiando o governo diz muito sobre nossos próprios erros - dos que de fato têm uma posição de esquerda e dos que apenas alegam tê-la. De algumas pessoas tenho ouvido a reclamação de que Luís Inácio Lula da Silva pecou, quando não pôs nas ruas nos primeiros seis meses de governo as multidões que o atual Presidente mobiliza, sempre que o sapato aperta. Somente isso, dizem meus irritados interlocutores, teria levado às reformas indispensáveis, a mais importante das quais a urgente redução das desigualdades sociais. A taxação das grandes fortunas e outras medidas redistributivas da riqueza possivelmente teriam sido alcançadas e a emergência de lideranças íntimas do autoritarismo seriam evitadas. As concessões feitas aos mais ricos produziram, mesmo em plena pandemia, maior concentração de riqueza, enquanto rareiam cada dia mais os que se preocupam com o combate à desigualdade. Se persistirmos em recusar a autocrítica, teremos ainda muito chão pela frente, até acharmos os caminhos que julgamos melhores para a sociedade.
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