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Foto do escritorProfessor Seráfico

As patas traseiras

Maiores sejam a ignorância e a perversidade, sozinhas elas não dão conta dos males que podem causar às sociedades. Mesmo que seus resultados somem níveis de letalidade igual ou próxima da que a covid-19 colheu no Brasil, ainda assim é preciso estar atento a outros fatores. Sobretudo quando o País é chamado às urnas. Estas, como sempre, dirão da índole de nossa sociedade - por suas elites econômicas, militares, intelectuais, políticas, tanto quanto dos sentimentos por ela impostos, promovidos e estimulados nos segmentos mais frágeis. Não se evita o devido combate a uma pandemia desde o início pavorosamente ameaçadora, nem se impõe o silêncio centenário a crimes cometidos contra os cidadãos, se não quando à ignorância e à perversidade somam-se outros ingredientes dessa poção maldita. Neste caso, visão de mundo anacrônica, para dizer o menos. Ou seja, enquanto as sociedades mais avançadas tentam oferecer aos seus participantes condições de superação dos problemas mais graves, aproveitando-se dos avanços tecnológicos, há outras cujos governantes buscam esmaecer esses mesmos avanços, como se nunca tivessem sido alcançados. É certo que as nações mais poderosas e ricas sempre pretendem tirar algum proveito, às vezes com a imposição da força, esse instrumento costumeiramente utilizado, à falta de argumentos e sentimentos correspondentes ao progresso da Ciência e à inovação na Tecnologia. Disso nos dizem os impérios mantidos na Antiguidade que, projetando-se em outros momentos, mostram resíduos nas políticas e condutas imperiais remanescentes. Não é outro o caso da atual guerra entre os Estados Unidos da América do Norte e seu braço armado espalhado mundo afora, a OTAN, contra a Rússia de Putin. Dois dos restantes sistemas imperiais, que escolheram a Ucrânia como palco da tragédia que lhes dá gosto protagonizar. Enquanto as vozes mais lúcidas reivindicam o uso da tecnologia avançada como revelação da inteligência do animal dito superior e instrumento que levará ao bem-estar do ser humano, onde quer que ele se encontre, os destoantes propagam uma pretensa guerra santa. A não ser que estejam apegados à ideia de que Lúcifer um dia esteve no Paraíso e de lá foi expulso, impossível ver algo de sagrado na espoliação de povos, submissão dos semelhantes e condenação à morte - às vezes, pela negativa do oxigênio -, onde quer que isso ocorra. Charles Spencer Chaplin, o grande cidadão britânico que muitos só conhecem das telas de cinema, um dia disse que o Mundo precisa mais de sentimentos que de técnicas. Não se pode dizer que não há sentimentos, hoje. Discuta-se, porém, a qualidade deles. Em especial quando correspondem a taras, frustrações, percepção de sua inferioridade intrínseca. Se a Lei torna todos os homens iguais perante ela - assim é na democracia - as leis naturais são exigentes de relações fartamente explicadas pela cadeia alimentar. Próprias dos animais ditos inferiores. E, como também estamos fartos de saber, eles existem até em muitos dos que se movimentam sobre as duas patas traseiras de antigamente.

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