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As formas de matar

Muitas são as formas de matar. Diferentes nos motivos, nas aparências e no grau de sofisticação, elas parecem integrar elenco infindável, dada a criatividade humana. Encontramo-las nas masmorras e nas salas de tortura, tanto quanto em gabinetes refrigerados. Desses as vítimas estão distantes, sem poderem sequer dizer qual a cor da tinta que escorre da caneta assassina. Elas também podem ser caracterizadas por extrema sofisticação, não quanto às armas usadas, neste tempo de trágico rearmamento. A novidade está nos motivos e alegações que acompanha o assassinato. Pode ser pela omissão em prover de oxigênio os moribundos, quando não ocorre o combate às medidas profiláticas que especialistas em saúde aconselham. A pandemia da covid-19 não nos deixa mentir, nem são escassos os exemplos de uma coisa e outra - ação e omissão igualmente criminosas. Sofisticada a mais não poder, a morte decretada pelo esquecimento é, de fato e em relação ao ser humano, a verdadeira e definitiva morte. Lá onde falta a lembrança, ali se instala a pesada e irremovível lápide sobre quem um dia viveu. Mesmo se a grande maioria tenha apenas sobrevivido, os pés assentados no solo, não o corpo para sempre escondido embaixo dele. Quando a morte se faz coletiva, pela chacina ou pelo extermínio, mais que os familiares e amigos dos mortos pedem contas. Nesses casos, é à História que se devem explicar os promotores e beneficiários do morticínio. É disso que trata texto publicado em Infonet, 22/7/2021, de autoria de Anal Luíza Araújo Porto. O título, Será o fim da disciplina História no novo Ensino Médio? No artigo são comentadas as consequências da Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que instituiu novas bases curriculares. Um dos primeiros retrocessos dessa fase de nossa Historia, seus inspiradores talvez pensem que o esquecimento pode ser objeto de imposição ou registro no papel. Como se fosse possível viver sem fatos, onde e quando quer que seja. Até Francis Fukuyama, que chegou a decretar o fim da História, recuou. Os tempos, para entristecer os assassinos - da História de quanto mais coisas - , na vasta solidão planetária.

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