A preocupação maior de quase todas as lideranças civis mais lúcidas tem a ver com o pleito de outubro e seus resultados. Não me refiro ao interesse por ser eleito, compor bancada partidária forte, assegurar base de apoio para o candidato que for eleito Presidente. Tenho a atenção despertada para certo fenômeno há tempos fora de nossos radares: a crescente influência do estamento militar nos fatos políticos de que deveriam por mandamento da Constituição, estar afastados. Mais se aproxima a eleição, mais se nota o clima restaurado no País, a tal ponto que muitos comentaristas enxergam o pleno e ansioso funcionamento de um Partido Militar. Porque saudei com esperanças a inclusão de militares nas eleições parlamentares de 2018, sinto-me no direito - e no dever, igualmente - de expressar minha frustração. A numerosa lista de candidatos saídos das forças armadas expressava para mim a submissão deles às regras constitucionais. Estariam legitimando a Política, por isso pretendendo nela revelar o patriotismo insistentemente proclamado. Frustramo-nos, eu e, pelo menos, o general Santos Cruz, entrevistado na noite da última terça-feira pelo jornalista Roberto D'Àvila. Entendo que a renúncia ao papel profissional reservado às forças armadas, de que a Constituição oferece a abrangência e as respectivas responsabilidades, agride a ordem jurídica e ameaça as instituições e a segurança dos cidadãos. Quando o artigo 142 da Constituição dita cidadã (e não sem razão) destaca o caráter permanente das organizações castrenses, não o faz gratuitamente. Lá é dito assim, porque nunca é demais identifica-la com o Estado brasileiro, não com o governo eleito para governar o País a prazo certo. A interferência dos chefes militares no cotidiano político, pode até assegurar a alguns membros da corporação posição em que melhoram seu padrão de vida, mas nunca se prestará a melhorar os costumes políticos. Ao contrário, gera no seio da população desconfiança e temor, ambos sentimentos nocivos à imagem das organizações militares. O envolvimento de militares na ativa em eventos nitidamente agressivos à democracia e ao Estado de Direito, por si mesmo daria motivo à intranquilidade - das autoridades civis e militares realmente comprometidas com os valores democráticos, e da população, grande parte da qual sofre o desemprego persistente, a inflação crescente e a desesperança vigente. Identificar-se com os objetivos descritos no artigo 3º da Lei Maior, como objetivos da República é diferente da identificação com os propósitos que o atual Presidente da República não cansa de propagar, defender e tentar impor à toque de caixa. Só para lembrar, convém mencionar quais os objetivos que o Estado brasileiro, como república federativa, deve perseguir: a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais; a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Assim está no artigo 3° da Constituição Federal.
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