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Foto do escritorProfessor Seráfico

Armas e livros

Cada dia vivido, uma nova lição, quando não o fortalecimento de convicções firmemente justificadas e consolidadas. Estas, vantagens decorrentes da permanente exposição ao aprendizado. Também da indiferença quanto ao número de décadas vividas. E a vontade de levar adiante a pretensão de aprender, enquanto o pulso ainda pulse. Tramita e transita pelos desvãos e sombras propícios à ignorância e às maldade humanas, o propósito de levar armas para dentro das escolas. As consequências deixam de ser obra das pitonisas adivinhar. Nestes dias, basta mencionar a cena que invadiu milhões de casas brasileiras. Um adolescente com pés e mãos algemados, diante de dois todo-poderosos metidos em trajes de policiais militares. Não faltou sequer o joelho de um suposto homem da Lei pressionando a costa do estudante de 17 anos, em decúbito ventral no chão da escola. O símbolo revelador da origem do gesto. E da forma como devem ser tratados os pobres de todos os países. Nem precisa lembrar que a presença dos policiais militares é devida à percepção dos dirigentes da escola-palco onde o lamentável e monstruoso fato ocorreu. Mais uma vez, acontecimento perfeitamente ajustado aos valores e exemplos proclamados durante os últimos quatro anos no País. Vê-se, portanto, nada aleatória ou casual a conduta dos policiais, desde que se sabe, também, do propósito que ninguém assegura totalmente superado, de excluir a instalação de câmeras fotográficas dos uniformes dos homens da Lei. Segundo se noticia, a presença dos policiais militares respondia ao chamado da própria direção da escola. Apenas a confissão de que tais dirigentes não estão preparados para administrar estabelecimentos escolares, se não qualquer outro tipo de estabelecimento. Se soa despropositada a ação violenta dos responsáveis pela proteção dos cidadãos e manutenção da ordem, em presídios, tal despropósito chega às raias do absurdo, quando os atos são praticados dentro de uma escola. Fosse uma terceira pessoa a solicitar a expedição por todos os títulos criminosa, já seria demais. Quando se trata de atendimento de demanda apresentada por supostos pedagogos ou professores, maior ainda é a gravidade do fato. Mas foi o que aconteceu, e resultou no que todas as redes de televisão mostraram aos assustados telespectadores. Não pode ser outra a reação, que não a estupefação de todos, ao sentirem prosseguir a caminhada que queimará livros e proverá cada dirigente escolar ou - quem o pode contestar com algum fundamento? - todos os alunos com armas que supostamente pensam capazes de resolver os problemas corriqueiros nas escolas. Esta a lição que lhes vem sendo dada, pelo menos na escola onde o fato ocorreu. Embora não tenha sido o primeiro, nem seja sábio imaginar ter sido o último.

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