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Foto do escritorProfessor Seráfico

Arma democrática

Dentre as mensagens agressivas, muitas delas fruto da perversidade e do desprezo pela verdade, trocadas pelas equipes em campanha, uma chama-me a atenção mais que todas as outras. É certo não ser a única, mas tem particularidades que não podem passar despercebidas pelos que a assistem. Primeiro, pelo contraste que logo se pode estabelecer entre o que o protagonista diz, em relação ao que ele, não faz tanto tempo assim, disse. Depois, porque destoa da linha adotada pelos seguidores dos candidatos, uns mais que outros. Não se trata, óbvia e indesmentivelmente, de uma fake-news. Porque quem a diz - confessa deve ser o termo usado - refere-se a uma prática que, pelo menos até 2019, era tida como ilícito. E, se de fato o é, nem foi revogada a lei que o especifica por algum outro ato de caráter secreto, põe por terra qualquer tentativa de construir imagem menos que repugnante do seu autor. Ninguém menos que o Presidente da República. Assim ele falou, na pose sempre autoritária que traz consigo: sonego e sonegarei tudo o que puder. Ao que me consta, a sonegação é crime tributário, seja quem for o que o cometa. O vídeo que flagra a ilicitude na verdade é uma espécie de painel, tendo todas as imagens um ou mais de um fio condutor a ligá-las entre si - a vocação para o crime e o prazer que dá ao agente do ilícito dizê-lo do alto do ódio profundo de que é portador. Alguns talvez achem tolice mencionar esse como ato merecedor de comentário, se tantos outros, com maior ou menor gravidade, ocorrem, se nem todos estão no mesmo vídeo. Como, por exemplo, a manifestação de enorme amor à tortura e o absoluto desprezo pela vida - dos outros. Disso dá testemunho a afirmação de que deveriam ter morrido ao menos 30.000 brasileiros, durante a ditadura. Esta, frequentemente negada pelo bravateiro - valente diante de mulheres, um tchuchuca diante de quem pode enfrentá-lo em igualdade de condições. Em Direito, é costume dizer-se que quem pode o mais, pode o menos. Confesso - agora a vez é minha - ter esquecido essa lição que aprendi no curso superior. Quem homenageia torturadores e encobre crimes até piores que o da sonegação; deixa que falte oxigênio para pessoas asfixiadas pela covid-19; zomba dos que têm fome; manda infectados buscarem vacinas na casa da mãe; imita zombeteiramente doentes asfixiados pelo vírus da pandemia; descentraliza o orçamento e põe na mão de conhecidos e notórios salafrários o dinheiro do contribuinte; desmonta os órgãos de controle ambiental, fiscal e de segurança; promete - e cumpre, pior ainda - impedir que os crimes praticados à sua ilharga sejam sequer investigados - pensa que pode tudo. Inclusive, invadir igrejas para pôr à prova a paciência dos que não rezam pela suja cartilha que o orienta. Não podemos dizer, infelizmente, que ele age sozinho. Dele e de todos os que, nos seus sujos rastos, produziram o descalabro administrativo, social e humanitário que envolve a sociedade brasileira, os que têm alguma dignidade dentro de si devem manifestar-se. Em resumo: os quase 700.000 brasileiros que ele ajudou a matar ainda não lhe satisfizeram o instinto canibalesco. Opor às armas que tanto o fascinam, a pior e mais eficaz arma das democracias - o voto. É isso o que espero será feito, dia 30 de outubro de 2022.

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