
Amanhã
Os olhos veem
o país que se avizinha
cresceu a mão pedinte
à espreita esbugalhados
mais que ontem
olhos em desespero
encaram sem brilho
o amanhã retrocedido
palavras vãs
sentimentos semelhantes
perderam-se nos que
foram vivos
pó se tornaram
porque do pó
vieram
abortada a aurora é
natimorta
talvez a semente fosse boa
inóspita a terra
em que medrou
ou fértil a terra
a semente inviável
emurcheceu
sem ar
desértica de seiva
parca de vida
nela em vão
contida.
Que dizer a Arthur
que mal chegou
como lembrar a Lucas
e Nicole
esperanças ainda
acalentadas
a Ian e Matheus
porque falar de cores
escondidas no disco
de Newton
no arco-íris improvável?
O que oferecer
a Nina e Jorge Neto
e Maria Virgínia
se não conseguem levar
a lares semelhantes
augúrios que cercam
sua chegada?
Nunca foi preciso tanto
trazer do fundo
sonoros sons
de canções jamais
cantadas
versos alegres
por muitos anjos
esquecidos
braços frouxos nos
abraços que não
houve
palavras retidas
na garganta
onde as vozes se
apertam
são tragados
remédios venenosos
ódio à vida
de riso e sonho
pouco a pouco
construída
posta por terra
sempre tem
quem a agrida.
Resta ao poeta
exausto da espera
longe da festa
distante da quimera
premido pelo que
o desanima
falar da Terra e
dizer bem claro
preferir vê-la
grande bola coberta
pelo azul de cima.