Aliança ou chantagem

Longe de mim a pretensão de dar conselhos a quem entende dos assuntos mais que eu. Curioso da Politica, são escassos meu apetite e minha vocação para a política - politicalha, politiquice, chamam-na outros. Compreendo, todavia, a aproximação entre aparentes antípodas, sem a qual nenhuma democracia será sustentável. Ainda mais, se o elenco de siglas partidárias acaba por pulverizar esse - permitam a expressão - mercado. Onde as operações se fazem geralmente no varejo, não nas condições características do atacado. Daí a superação da minoria governamental baseada não em legítima aliança constituída de princípios programáticos, mas em expedientes de ocasião. Nestes, sempre os interesses mais mesquinhos, marcados pela ilegitimidade, não raro afrontando a própria Constituição. Trata-se, então, de fugir à parceria admissível porque legítima em qualquer democracia que mereça tal qualificação, por verdadeira cumplicidade. Algo muito próximo da comunidade de interesses sobre as quais se fundam as chamadas organizações criminosas. Pelo andar da carruagem, e admitido o propósito de Lula de cumprir suas promessas de campanha, é arriscado imaginar que os integrantes do centrão se deixem comover e se movam segundo a interpretação aqui exposta e os valores democráticos correspondentes. Talvez Lula conseguisse apaziguar a fome dos que deseja conquistar, se antes fizesse uma seleção. Nâo dentre os membros do Congresso. A seleção consistiria em manter certo grupo de ministérios blindado contra o assédio dos políticos famintos por cargos e verbas. Penso que, no mínimo, Saúde, Educacação, Infraestrutura, Defesa e Ciência e Tecnologia estariam nesse grupo. As negociações, vedada a negociata, afetariam apenas as outras pastas. Respeitado, sempre, o pacto programático.