Alívio e indignação
- Professor Seráfico
- 25 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
As duas palavras postas no título foram uma constante, na reação à prisão dos suspeitos de mandar matar a vereadora fluminense Marielle Franco. Também foi morto um assessor da parlamentar, Anderson Nunes. Alívio, porque concluída importante fase da investigação do duplo assassinato, ocorrido há seis anos. Não foi fácil chegar a esse ponto, haja vista a participação de influentes políticos do Rio de Janeiro. Na trama, no acobertamento, na condenação à morte da vereadora e seu assessor, nas manobras para encobrir o fato. Durante todo esse período (2018-2014), iniciado com o fato que agora tem reveladas as investigações, gerou-se e cresceu a indignação que, longe de ter chegado ao clímax, permanecerá enquanto não se esgotar tudo quanto ainda falta ser esclarecido. A motivação do duplo homicídio, por exemplo. Porque, recolhidas provas robustas acerca das circunstâncias, dos autores materiais, das tratativas, do financiamento, da queima de arquivos e das manobras destinadas ao acobertamento do crime, ainda resta saber quais as razões de Marielle e seu assessor terem sido mortos. Fato que merece maior esforço de apuração diz respeito às razões por que Rivaldo Barbosa, o Chefe da Polícia Civil de então, foi nomeado pelo Secretário de Segurança Pública na véspera do duplo assassinato. A autoridade que nomeou Rivaldo participava da equipe do então interventor federal na segurança pública da capital fluminense, general Braga Netto. Sabe-se dos resultados dessa intervenção, período em que aumentou o poder das milícias e o crime organizado prosperou como nunca. Até que se saiba tudo a respeito desses pontos obscuros, não poderá sequer reduzir-se a indignação dos brasileiros. Se, dentre estes, há os que se comprazem com a eliminação dos discordantes, as grande maioria pauta suas ações e decisões pelo respeito aos direitos humanos e a convivência social baseada na solidariedade e na tolerância. A morte de Marielle e Anderson, mais que resultado de ação delinquente que vitimou duas famílias, agrediu sobretudo a dignidade de todos os brasileiros, feitas as exceções. Há de reconhecer-se, no entanto, a existência dos que sequer sabem o que concorre para tornar digna a vida dos outros. Esses, felizmente, não podem ser comparados aos outros.
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