A maioria dos observadores, comentaristas, analistas e jornalistas ocupa-se em avaliar quem ganhará com a aparente conversão do Presidente da República à causa do combate ao vírus. Há os que o vem como o grande ganhador da cena, enquanto outros apostam todas as suas fichas em que tudo não passa de encenação. Com a mesma durabilidade das sketches conhecidas através dos meios mais modernos de comunicação. Neste caso, ele estaria na sua praia, marcada pela superficialidade, pelo descompromisso com a verdade, pela comunicação de mão única. Disso ele entende bem, se é que chega a entende-lo. Passado o pior, recuperada a popularidade parcialmente perdida, tudo voltaria à fase pré-covid-19, período em que ele surfava nas ondas do fanatismo, do culto à personalidade, das proclamações e provocações (supostamente) incabíveis no ocupante do cargo de que ele não dá conta. Há, porém, os que vejam razoável probabilidade de o Presidente afinal render-se à realidade, mesmo se pairam sobre ele fundadas suspeitas de que não tem atada ao pescoço caixa craniana capaz de elaborar o mais rudimentar raciocínio. Essa, porém, é hipótese de que só podem tratar os especialistas, raramente encontrados no coletivo dos profissionais a quem tal área compete. A não ser que valha a posição em que se colocam diante dos cientistas do comportamento, a de pacientes também. O certo é que, ainda que não o consiga por inteiro, foi dada – digamos assim – uma nova oportunidade ao Presidente de redimir-se não diante seu eleitorado de fanáticos, não à toa tidos por boiada prestes a arrancar o cercado em que se acostumou a viver. O restante da população, aquele cuja maioria chora o alto preço que terá pago – 300 mil mortos poderá recolher algumas esperanças quase descartadas. Nesse sentido, portanto, o Presidente recolherá algum ganho. Difícil é garantir que se trata de efetiva reversão na conduta usual ou simples recuo, como trégua destinada a revigorar as forças gradativamente perdidas, para depois voltar ao ataque costumeiro. Mais que os observadores de toda espécie, ele sabe tratar com coisas que dizem respeito ao enfrentamento, desbordamento, cerco, sítio e ataques – à vida dos opositores, sobretudo. Diferente dos ambientes antes por ele frequentados, na vida democrática o cultivo da vida, o amor à relação pacífica entre seres humanos e nações inteiras é a regra. Tanto, que tantos a têm sacrificado, para que outros dela desfrutem. Dessa história, pelo menos desde Jesus e no Ocidente, quase todos sabemos, a despeito de não serem muitos os que o admiram e seguem. Refiro-me ao andarilho da Judeia. Por enquanto, faltam evidências de que estamos diante de uma troca de sinais e de rota. A condenação, tanto quanto o aplauso devem ser deixados para mais um pouco à frente. Só então saberemos quem colocará as 300 mil mortes em seu portfólio. E em que coluna - a do deve ou a do haver?
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