A surdez diante da Ciência

Em oportuno e sempre lúcida apreciação, o pesquisador Niro Higuchi, do INPA, comenta sobre a fumaça que teima em cobrir Manaus (Crise não se resume à fumaça, A Critica, 23-08-2024, p.A3) . Do alto de seus profundos conhecimentos sobre a Região e sua configuração física, o cientista diz que a crise ambiental "não deixa de ser uma crise social. Essa crise não se resume à fumaça que encobre Manaus e outras regiões do Brasil". Vai além o respeitado pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, ao lembrar que "desde a Convenção do clima aprovada em 1992 (ratificada pelo Senado brasileiro em 1994) já havia uma evidência bem clara (de) que o aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera fez aumentar a temperatura média da superfície da Terra...". Ora, Niro apenas usa o que aprendeu em sua prolongada e permanente formação científica, para traduzir em termos técnicos o que toda a população de Manaus, da Amazônia e do Planeta pode observar a olho nu. Ao final de seu oportuno e consistente pronunciamento, Higuchi (justa e reiteradamente homenageado por instituições científicas nacionais e internacionais) aponta sua condição de servidor público federal, "parte do governo federal", em suas próprias palavras, para lamentar a impotência dele e de seus colegas no serviço público e a "visão simplista" que muitos têm sobre o fenômeno. Sei que a época é pouco propícia à aceitação da Ciência e ao aplauso aos que a ela dedicam sua vida (como Niro e tantos outros de seus colegas cientistas). Também sei da exigência dos que se escoram no mercado: quanto menos Estado, melhor para eles. Juntem-se as duas coisas e se comparem as fortunas amealhadas à sombra do Erário. Logo se saberá como funcionam uma coisa e outra - o Estado que se quer cada dia menor; os afortunados, cada dia mais vorazes e próximos dos cofres públicos. Que desta vez Niro Higuchi não esteja falando para surdos.