
*A SOCIOLOGIA DOS DESESPERADOS*
O poeta vê o mundo pela transversalidade; de cima chora, de baixo grita. Com as palavras resiste, lamenta e até mesmo se aliena. É assim o poeta. Ele pode ser assim, pois é assim o poeta.
Mas não sou poeta. Sou um sociólogo desesperado, à procura das palavras da resistência. Já não basta a contestação e a lamúria é coisa de cristão sofrido.
Ao abrir as notícias, sofro, me indigno com o horror e o terror. Quem me deras ter as palavras do poeta. O grito do sociólogo já não me faz ser gente.
Quero mesmo é a rua pintada de vermelho. Não com o sangue dos meus irmãos, mas com o clamor dos desesperados.
Sou um sociólogo à procura do verbo que me faça lutar. Não consigo sonhar sem as mãos amigas a fazer cafuné nos meus cabelos grisalhos.
Quero a verve poética do ser que luta.
Quero um mundo tingido de lilás, com o verde cruzando ares e se tornando rios.
Quero ver a sociologia gritando a voz dos esquecidos e abraçando nossa gente carente de um afago.
Lúcio Carril