Assisti, na tarde de ontem, ao debate sobre Resistência e Protagonismo das Mulheres indígenas. Transmitido na plataforma google-meet, o encontro virtual teve como palestrante a liderança sateré-mawé Samela, uma estudiosa e defensora do seu povo. Embora não tendo participado desde o início, o que ouvi deixou marcadas em mim, mais que impressões, expectativas favoráveis. Chamou-me a atenção, sobretudo, a informação de que aquele povo, mesmo tradicionalmente patriarcal, é indiferente às questões de gênero. Homens e mulheres, por isso, não competem entre si. Não sei se por terem inimigos mais poderosos e cruéis que seus próprios irmãos, qualquer que seja o gênero, ou porque sua história assim se construiu – e constrói, dia-pós-dia. Essa constatação, que louvei em intervenção no chat posto à disposição dos participantes da reunião, parece contrastar – ainda bem! – com o que tenho testemunhado ocorrer, sempre que o tema vem à baila, na dita sociedade civilizada. Nesta, fica absolutamente encoberto o problema central, a desigualdade que começa pela disputa em torno da acumulação da riqueza material. É como se as questões de gênero sequer existissem, tanto a detenção dos nacos de riqueza é que determina a posição social de cada segmento. Homens e mulheres, patrões e empregados, crentes e agnósticos – nada disso parece interessar, na sociedade ainda colonial em que vivemos. Quem sabe não é apostando nisso e desdenhando da própria história desses povos que iniciativas como a mineração em terras indígenas prosperam? Haja bom número de indígenas engajados nos projetos governamentais, vendo escorrer para suas bolsas parte dos resultados da exploração dos territórios tradicionalmente ocupados por seu povo, como seria? Ou seja, os colonizadores sempre encontram meios de permanecer colonizando e, com frequência, aprofundando e estendendo as relações sociais a seu modo a número crescente de povos e habitantes. É no dinheiro e na força que este confere aos dirigentes e às elites dirigentes, que se sustenta o ideário dos “civilizados”. A própria Samela Sateré-Mawé, provocada por uma pergunta, mostrou resultado palpável da COP-26, em relação aos povos indígenas. Montanha de dinheiro foi alocada a projetos na Amazônia, onde habitam 80% dos que moram em 13% dos territórios indígenas já demarcados. O uso dessa dinheirama, no entanto, não tem a menor participação das populações da floresta. Ou seja, inverte-se o sentido dos investimentos nas áreas habitadas pelos povos indígenas, tornando-se não mais que novas oportunidades de lucro aos gulosos e vorazes mineradores, fazendeiros de toda espécie e os que lhes fazem a corte. Nem precisaríamos ir longe demais, ao constatar que a FUNAI foi transformada em aparelho repressor dos povos que deveria proteger. Mais que Darcy Ribeiro, um dos fundadores do órgão, é o povo brasileiro quem sofre a traição.
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