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A pior agonia

Cada dia com sua agonia, diziam os antigos. Algo que penso ter a ver com o tão propalado aqui e agora, que a mim aparenta desprender-se do passado e virar as costas para o futuro. Se as agonias acompanham os indivíduos por toda a vida, cotidianamente, as nações não estão livre de experimentá-las. Ora mais, ora menos, as pressões incomodam e desafiam as sociedades, forçando--as a encontrar respostas para os desafios de ontem, os problemas de hoje e cuidar para prevenir dificuldades que o futuro pode trazer. Há momentos, porém, em que as agonias são produto da ação daqueles aos quais caberia conduzir as nações e aproveitar-lhes os potenciais. Se essa condução é marcada pela ignorância e pelo ódio, as agonias se mostram multiplicadas e os resultados não poupam nem mesmo os que deram de ombros aos problemas. Quando ocorrem, certas coincidências (mas nem tanto!) desfavoráveis, ai então as agonias se transformam em tragédia, como a de que somos testemunhas e vítimas, neste momento de pandemia e pandemônio. O estado agonizante em que se encontra o Brasil deste malogrado 2021 tem a agrava-lo a ação de ninguém menos que o Presidente da República. Desde o primeiro dia de seu (des)governo, ele não tem feito outra coisa, se não acirrar os ânimos, jogando irmão contra irmão, pai contra filho, tudo na tentativa de perpetuar-se no poder. Se é verdade não haver qualquer surpresa na conduta do Presidente, tanto ele anunciou qual seria seu comportamento, não se pode desdenhar do fato de que à sociedade é reservada boa parte da responsabilidade pelo futuro do País. Ainda agora, a nação mostra-se perplexa e assustada com o que pode acontecer no próximo dia 07 de setembro, durante tanto tempo (desde 1823) comemorativo do que se chamou a Independência. Não faltam motivos para tornar maior a angústia e a agonia dos brasileiros, diante das ameaças presidenciais. Muitos veem nelas o propósito de agredir ainda mais as instituições que, bem ou mal, têm conseguido manter a duras penas o Estado Democrático de Direito. A data no passado festejada como o Dia da Independência, este ano chega sob a expectativa trágica de tornar-se um momento de ruptura profunda, porque outra coisa não é a tentativa de impor o autoritarismo e pôr fim à república que, também a custo demasiado alto, temos mantido desde 1889. A diferença, em relação ao infausto período 1964-1985, contaria além de tudo o mais herdado daquele ínterim, do estado mental do próprio governante. Embora resista a ver como simples aventura a atuação do Presidente, acho que a hipótese levantada por vários psiquiatras e psicólogos não nos deve dispensar de opor obstáculo ao projeto em curso, a que o Chefe do Poder Executivo se entrega com denodo, desde 01 de janeiro de 2019.

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