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A LUTA PERMANENTE DA MEMÓRIA ESCRITA POR ORLANDO SAMPAIO SILVA



Do jornalista paraense José Carneiro, blogueiro experiente, colho o oportuno e interessante texto. Quem sabe uma contribuição à rememoração do centenário da Semana de Arte Moderna?!


(MEUS ARTIGOSJOSÉ CARNEIRO13 DE JANEIRO DE 20220)


O professor Orlando Sampaio Silva, que está beirando os seus 90 anos de idade, reside na capital de São Paulo com sua esposa, Edith Seligmann, médica, ambos aposentados, e com seus filhos, o mais velho dos quais médico também, residente na Alemanha, falecido no ano que passou.

Na próxima semana postarei detalhes da vida do professor Orlando Sampaio Silva a partir de Bragança, passando por Belém e chegando até São Paulo, incluindo o que tem do paulista, sua nova forma de vida. Esses detalhes enriquecem a vida do professor Orlando Silva, que se dedicou sempre à família e ao estudo, como tem demonstrado em tudo aquilo que expõe.

A primeira parte do interessante texto tem a ver com os paraenses que se dedicaram ao modernismo nas letras, nas artes plásticas e também nas humanidades. Acompanhem esse texto. Na próxima postagem o professor Orlando Sampaio Silva será o personagem principal de suas lembranças.


O MODERNISMO NAS LETRAS, NAS ARTES PLÁSTICAS E NAS HUMANIDADES, NO PARÁ.

Orlando SAMPAIO SILVA (1)

O Movimento Modernista brasileiro teve seu evento magnum na Semana de Arte Moderna de 1922 (dias 13, 15 e 17/02), sob a liderança de Graça Aranha, Oswald de Andrade e Mário de Andrade, e que se reuniu no Teatro Municipal de São Paulo. A Semana repercutiu, no Brasil, movimentos artísticos que floresceram na Europa, tais como o modernismo, o futurismo, o impressionismo, o pós-impressionismo, o cubismo, o dadaísmo, o abstracionismo, o surrealismo, o fauvismo, o suprematismo, o construtivismo, o raionismo. Da Europa vinham as influências de Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Mallarmé, Flaubert, Victor Hugo, Balzac, Émille Zola, T. S. Eliot, E. Pound, M. Proust, J. Joyce, F. Kafka, Thomas Mann, Apollinaire, L. Aragon, André Bréton, Paul Éluard, Paul Valéry, J. P. Sartre, Camus, Claude Lévi-Strauss e outros. No Brasil, floresceu um punhado de escritores, artistas plásticos e mesmo cientistas sociais – poetas, romancistas, pintores, humanistas -, que marcaram de forma definitiva sua presença nos cenários literário, das artes plásticas e no das humanidades: além dos referidos acima no início do texto, registrem-se os seguintes ícones – Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, José Américo de Almeida, Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Ledo Ivo, Sérgio Milliet, Augusto Frederico Schimidt, Vinícius de Moraes, José Veríssimo, Inglês de Souza, Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde), Álvaro Lins, Otto Maria Carpeaux, Antônio Cândido, Astrogildo Pereira, Álvaro Moreira, Cecília Meireles, Adalgisa Nery, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Lima Barreto, Marques Rebelo, Érico Veríssimo, Dalcídio Jurandir, Monteiro Lobato (que foi crítico à Semana), Caio Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré, Gilberto Freire, Florestan Fernandes, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Herbert Baldus, Eduardo Galvão, Egon Schaden, Carmen Junqueira, Sílvio Coelho dos Santos, Roque de Barros Laraia, Roberto da Matta, Edson Diniz, Alcida Ramos, Octávio Ianni, Fernando Henrique Cardoso, Anita Malfatti, Tarcila do Amaral, Ismael Nery, Cândido Portinari, Cícero Dias, Di Cavalcanti, Lasar Segall etc.

Devo dizer que a repercussão da Semana, no Pará, foi retardatária e, em parte por isso, de pequena eficácia. Muito provavelmente as influências dos movimentos artísticos e dos escritores e artistas plásticos europeus chegaram ao Pará não como um eco da Semana de Arte Moderna, com seus artistas de vanguarda, mas, sim, concomitantemente com a influência destes, impactando o meio cultural paraense com seus cânones estéticos. A Escola Modernista, nas diversas artes, em realidade, chegou, definitivamente, ao Pará, com a geração de jovens intelectuais do final dos anos 40, dos anos 50 e primeiros anos 60, os anos dourados (no Mundo, a PAZ com a derrota do nipo-nazi-fascismo; no Brasil, o fim da ditadura Vargas e a redemocratização). Porém, antes, já nos anos 20 e 30, alguns escritores se reuniram em torno das revistas “Belém Nova” e “Terra Imatura”.

Os modernistas de outras plagas do país foram lidos e apreciados pelos paraenses. Estabeleceram-se mesmo alguns vínculos informais entre escritores renomados nacionalmente e escritores do Pará. Mário de Andrade, que em sua viagem de estudos e observações à Amazônia, esteve em Belém em 1927, ficou apaixonado pela cidade e “Macunaíma” veio a ser inspirado na cultura regional do Norte, especialmente, em sua face indígena. Oswald de Andrade e sua obra mereceram um belo ensaio crítico e analítico de Benedito Nunes, que, também, escreveu um estudo paradigmático sobre a obra de Clarice Lispector, e, o importante ensaio “A Rosa o que é de Rosa” (sobre Guimarães Rosa). Manoel Bandeira se sentiu encantado com Belém e não resistiu à tentação de escrever seu belo poema “Belém do Pará”. A pedra no caminho de Carlos Drummond de Andrade, uma poesia modernista exemplar, tornou-se uma pedra nos sapatos de alguns tradicionalistas da Academia Paraense de Letras. Monteiro Lobato, o severo crítico da Semana, se não teve, em Belém, muitos leitores de sua literatura para adultos, no entanto, sua literatura infanto-juvenil teve ampla aceitação entre os leitores mais jovens do Estado, que muito a admiraram e que experimentaram a descoberta de novos e significativos horizontes culturais com sua leitura. Jorge Amado, em visita a Belém, fez uma palestra sobre sua obra, no PSB local, a meu convite (eu era o secretário de cultura da entidade). Não há dúvida, efetivou-se um intercâmbio receptivo e um diálogo entre os modernistas brasileiros de outras regiões – poetas, romancistas – e os escritores e leitores paraenses. Porém, houve quem transpusesse as fronteiras nacionais da literatura, como o fez Machado Coelho, que traduziu poesias de Verlaine para o português: “Minhas Canções de Verlaine”.

Registre-se que, em verdade, a vibrante manifestação modernista paraense se deu sob a liderança de dois intelectuais fundantes: Francisco Paulo do Nascimento Mendes (professor de literaturas portuguesa e brasileira, e ensaísta) e Benedito Nunes (crítico de arte e filósofo). Neste tempo, o autor deste texto ainda vivia no Pará e participou desses acontecimentos. A intelectualidade da época estava dividida, encontrando-se, por um lado, os modernistas, que divulgavam seus trabalhos nas revistas “Encontro” e “Norte” (cujos diretores eram Benedito Nunes, Max Martins e Orlando Costa) e nos suplementos literários dos jornais “Folha do Norte” (do jornalista Paulo Maranhão), “A Província do Pará” (“diários associados”) e “O Estado do Pará” (dirigido por Santana Marques), sendo que este jornal, também, publicava o suplemento “Página do Estudante”. O Suplemento Literário da “Folha” era o mais catalizador de poetas e ensaístas da literatura e era dirigido por Haroldo Maranhão.

Ainda no final dos anos 40, Benedito Nunes e alguns companheiros na poesia chegaram a constituir uma Academia dos Novos, que logo desmoronou em face do espírito antiacadêmico de seus participantes; por outro lado, os escritores com, em média, idades mais avançadas, se situavam congregados na Academia Paraense de Letras-APL, sendo eles, em grande parte, refratários à influência modernista.

Havia alguns pontos de encontros, onde florescia a conversa inteligente, erudita, irônica e, muitas vezes, sábia. Aquele primeiro grupo, constituído de modernistas, se encontrava, informalmente, no Central Café, cujo endereço era no andar térreo do Central Hotel, ao tempo, o segundo melhor hotel da cidade de Belém, localizado na principal avenida da capital paraense, a Quinze de Agosto, depois, Presidente Vargas. O Central Café era um salão de tamanho médio, chic (vestígio, em Belém, da belle-époque), marcado pela presença, em suas paredes, de grandes espelhos de cristal, que ficavam vis-à-vis. Quem quer que estivesse no interior do café, ver-se-ia (e seria visto) multiplicado ao infinito nas paredes laterais! Bem… Lá chegava, no final das tardes, dois ou três dias por semana, o professor Paulo Mendes, para tomar chá com torradas. Então, começavam a chegar seus companheiros de letras, um a um, que se iam amesendando, e tinha início o “papo” instigante. Logo, ali aportava Benedito Nunes, que vinha de suas aulas de filosofia. Então, o núcleo intelectual estimulante estava formado. A conversa ia até o anoitecer. Este mesmo grupo, com algumas variações, também se reunia na casa de Machado Coelho, que se localizava na Pç. da República, em local relativamente perto do outro ponto. A casa de Machado Coelho (o Coelhinho, como nos referíamos a ele familiarmente) se transformava em um verdadeiro “salão”, à moda daqueles que existiram na França da passagem do Século XVIII para o XIX. Dado a um costume de Machado Coelho (francófono) e de sua família, nestes encontros, vez por outra, a língua francesa estava presente como uma segunda língua dialogal.

Em termos de pontos de encontros, também, no Café Albano, na Av. Portugal, próximo do Colégio Estadual “Paes de Carvalho”, encontrava-se um subgrupo daquele do Central Café, constituído, em sua maioria, de estudantes deste colégio. Eu, este autor, fazia parte deste subgrupo. Daí, depois de boas conversas, saíamos para subir a Rua João Alfredo, ao encontro no Central Café.

Nesta mesma época, surgiu outro grupo, sendo este interessado especificamente no estudo de filosofia. O grupo se reunia em torno do professor de filosofia Benedito Nunes e se encontrava na casa de Orlando Costa, jurista e professor de Sociologia. Nesta época, o filósofo e crítico literário Benedito Nunes, ainda muito jovem, estava interessado em refletir principalmente sobre a filosofia tomista (de Sto. Tomás de Aquino). Era um grupo fechado. Edith Seligmann e o autor deste texto fizemos parte deste grupo. Então, eu era estudante universitário e Edith Seligmann era aluna de filosofia do Benedito Nunes, no Colégio Moderno, e se preparava para ingressar no Curso de Medicina.

Também, nesse tempo, com notável influência cultural, atuava o Cine Clube “Os Espectadores”, que era presidido por Orlando Costa. A entidade congregava os cinéfilos de Belém (entre os quais eu me encontrava) e apresentava, a cada mês, um filme de arte, que era objeto de análises e interpretações, em reuniões animadas de grande número de interessados em cinema, que se realizavam na sede da SAI-Sociedade Artística Internacional.

Nos anos 40 entrando pelos 50, um grupo de estudiosos interessados em etnografia e em arte indígena, que pertencia a uma geração bem anterior, mas que, intercambiava com os demais grupos, congregava-se no Instituto de Etnografia do Pará, que se reunia no Museu Paraense “Emílio Goeldi”.

Foram intelectuais que integraram o movimento modernista na literatura, nas artes plásticas e mesmo nas humanidades, no Pará: Francisco Paulo Mendes, Benedito Nunes (cf. acima), o poeta Mário Faustino, o romancista e jornalista Haroldo Maranhão, o poeta Ruy Guilherme Paranatinga Barata, o jurista, professor de Sociologia e cinéfilo Orlando Teixeira da Costa (Orlando Costa), o ensaísta e tradutor Machado Coelho, o poeta Paulo Plínio Abreu (exemplar tradutor do alemão da poesia de Rainer Maria Rilke), o poeta Max Martins, o jurista e ensaísta Cécil Meira, o ensaísta e juiz Levy Hall de Moura, o jornalista e advogado Cléo Bernardo de Macambira Braga, o jurista Raimundo de Souza Moura, o poeta Maurício Rodrigues, o poeta Cauby Cruz, o poeta Leonan Cruz, o poeta Alonso Rocha, o ensaísta e contista Simão Bitar, o ensaísta Ruy Coutinho, a especialista em teatro Sílvia Silva Nunes, a ensaísta Angelita Silva, o poeta Floriano Jaime; idem, alguns escritores um pouco mais novos, tais como o jornalista e poeta Evandro de Oliveira Bastos, o poeta Orlando Sampaio Silva (eu próprio, que, à época, ainda não era antropólogo, mas que logo vim a ser professor de História e de Literatura), a poeta, tradutora e, depois, médica Edith Seligmann (logo minha esposa), o poeta, jornalista, advogado, economista e filósofo Octávio Avertano Barreto da Rocha, o poeta Carlos Alberto Dias de Andrade Monteiro, a poeta Carmen Lúcia Paes, o cinéfilo, poeta e jornalista Acyr Castro, o cinéfilo Rafael Costa, o cinéfilo Manoel Penna, o ensaísta e cinéfilo (depois, antropólogo) Isidoro Alves, o cinéfilo e ensaísta Amilcar Tupiassu, o cinéfilo e médico Pedro Veriano; também, outros ainda mais novos: o poeta João de Jesus Paes Loureiro, o poeta Pedro Galvão de Lima, o jornalista e poeta José Seráfico, o engenheiro e físico José Maria Filardo Bassalo (fundador da Academia Paraense de Ciências), o ensaísta e poeta Joaquim Francisco Mártires Coelho, a futura professora de Letras Célia Mártires Coelho, o futuro jurista Inocêncio Mártires Coelho, o futuro historiador Geraldo Mártires Coelho (ainda muito jovem à época), o físico e ex Reitor da UFPA José de Seixas Lourenço, o jurista, professor da UFPA e ex-Ministro de Estado Nelson de Figueiredo Ribeiro, o jornalista e futuro historiador José Ubiratan da Silva Rosário, o historiador e antropólogo Raymundo Heraldo Maués, o antropólogo e sociólogo Roberto Maria Cortez de Souza, o jornalista e sociólogo Lúcio Flávio Pinto (muito jovem, à época), o antropólogo Édson Diniz.

Ainda outros intelectuais foram importantes, na produção literária, em outras artes e nas humanidades (sendo uns membros da Academia Paraense de Letras-APL, outros, professores da Universidade Federal do Pará-UFPA, etc.), à época, tais como: o romancista Dalcídio Jurandir, o poeta e romancista Benedito Vilfredo Monteiro, a poeta Adalcinda Camarão, o poeta Jurandyr Bezerra, o jornalista e antropólogo (cultura material e arte indígena) Frederico Barata, o jurista e tradutor Sílvio Meira (autor de uma das melhores traduções do alemão para o português da obra goetheana “O Fausto”; traduziu outras obras do alemão e do latim para o português), Cécil Meira (retorno a este intelectual, para dizer que ele foi autor do melhor e mais completo livro didático sobre literatura para os cursos colegiais que se escreveu no Brasil; foi adotado nos colégios de muitos Estados), o jornalista e poeta Georgenor Franco, o antropólogo Nunes Pereira, o poeta Bruno de Menezes, o poeta Olavo Nunes, o poeta Jacques Flores, o poeta Romeu Mariz, o poeta De Campos Ribeiro, o filósofo, médico e historiador da medicina Avertano Rocha, o médico e acadêmico Acelino de Leão, os romancistas Abguar Bastos e Osvaldo Orico, o ensaísta, jurista e professor de Direito Daniel Coelho de Souza, a historiadora Maria Annunciada Ramos Chaves, o jurista, ensaísta e professor de Direito Octávio Mendonça, o ensaísta, jurista, professor de Direito e poliglota Orlando Bitar, o jurista, político e professor de Direito e de Geografia Aloysio da Costa Chaves, o jurista, professor de Direito e político Aldebaro Klautau, o jurista, professor de Direito e político Octávio Meira, o professor de literatura francesa Américo Guerra, o médico e professor de Biologia Pedro Amazonas Pedroso, o professor de língua e literatura latina Remígio Fernandez, o jurista e jornalista Diogo Costa, o jurista e professor de economia Armando Dias Mendes, o professor e jurista Luiz Osiris da Silva (meu irmão e autor de “A Luta pela Amazônia”), o teatrólogo Nazareno Tourinho, o médico, político e professor de Medicina João Prisco dos Santos, o futuro poeta, médico e historiador da medicina Sérgio Pandolfo (muito jovem nesse tempo), o jurista e psicólogo José Maria Bittencourt Alves da Cunha, as antropólogas Eneida Corrêa de Assis, Angélica Maués, Lourdes Furtado, Jane Beltrão e Anaísa Vergolino e Silva Henry, o antropólogo Manoel Alexandre da Cunha (muito jovem, então), o sociólogo, jornalista, sociólogo e professor José Carneiro (muito jovem à época), as sociólogas Édna Castro e Violeta Refkalefsky Loureiro, o padre e antropólogo Samuel Sá, o ensaísta e cônego Ápio Campos. Clarice Lispector morou em Belém, por algum tempo, nesta época, quando estabeleceu relações fraternas com alguns escritores paraenses, entre os quais Benedito Nunes e Paulo Mendes. Benedito Nunes escreveu um belo ensaio sobre a obra de Clarice (cf. acima). Pintores marcaram sua presença no modernismo que floresceu no Pará, tais como Ismael Nery, Rui Meira, José e João Pinto, Leônidas Monte, Arthur Frazão, Ângelus Nascimento, Augusto Morbach etc. Realizaram-se grandes exposições coletivas de obras desses pintores, nas décadas de 40 e 50, inclusive no foyer do Teatro da Paz.

Muitos dos poetas e ensaístas que se reuniam no Central Café e na residência de Machado Coelho publicavam suas obras (cf. acima) nas revistas “Norte” e “Encontro”, mas, principalmente, no Suplemento Literário do jornal “Folha do Norte”; alguns publicavam nos Suplementos Literários de “A Província do Pará” e “O Estado do Pará”. Uma parte deste grupo, em uma fase, ainda estudantes secundaristas (como eu próprio) publicava seus trabalhos (poesias, contos, artigos, crônicas, romance folhetinesco) na “Página do Estudante” (jornal “O Estado do Pará”). Eu, pessoalmente (com o pseudônimo Silva Júnior), publiquei com frequência, poesias, nesta Página, e também tornei públicos contos (sob o pseudônimo Ivan Joseph) no Suplemento Literário d’ “O Estado do Pará” e, já professor universitário, artigos ensaísticos, no Suplemento Literário de “A Província do Pará”. A “Página do Estudante” também acolhia as poesias e crônicas de Oliveira Bastos, e os poemas de Octávio Avertano, Carlos Alberto Dias de Andrade Monteiro, Carmen Lúcia Paes, João Claro do Rosário Neto (também pintor), Juarimbu Tabajara, Roberto Santos (futuro professor de Economia), Jorge Ramos, Almir Pereira, Raimundo Medeiros da Silva, Oiran Ribeiro e outros.

Além de Orlando Costa, que o presidia, o Cine Clube “Os Espectadores” também contava com outro dirigente, Fernando Penna (o Penninha, futuro físico, UNICAMP), o tesoureiro da entidade. Também eram integrantes do Cine Clube, entre outros: os críticos de cinema Acyr Castro (futuro membro da Academia P. de Letras), Rafael Costa (APL), Manoel Penna (o Pennão, futuro médico psiquiatra, no John Hopkins Hospital, Baltimore, USA), Isidoro Alves (futuro antropólogo: Mus. Goeldi; antropólogo social do Min. de Ciência e Tecnologia) e Amilcar Tupiassu (futuro professor de ciência política), Nelson Ribeiro, jurista e professor da UFPA. O estudioso e crítico de cinema Pedro Veriano (médico, professor da Fac. de Medicina da UFPA) organizou e dirigiu a Cinemateca Paraense, que reuniu cinéfilos belenenses e que recolheu e conservou um acervo considerável de filmes.

O grupo que se reunia no Café Albano, em parte, se confundia com o grupo de jovens poetas bragantinos (ou seja, nascidos na cidade de Bragança) e era constituído dos seguintes jovens: Evandro de Oliveira Bastos, Orlando Sampaio Silva, Octávio Avertano Rocha, Carlos Alberto Dias de Andrade Monteiro, Carmen Lúcia Paz, Jorge Ramos, Almir Pereira, Avelino Henrique dos Santos, Acyr Castro, João Claro do Rosário Neto, José Quintino Leão, Amilcar Martins (futuro Diretor do Bco. do Brasil), Raimundo Medeiros da Silva e Raimundo de Souza Cunha. Parte destes (quase todos cepceanos), antes, havia fundado o Grêmio Cultural “Castro Alves”, entidade que congregava jovens poetas, contistas, jornalistas e interessados em política. Os fundadores e primeiros dirigentes do Grêmio foram: Orlando Sampaio Silva (presidente), Octávio Avertano Rocha (secretário), João Rosário Neto (tesoureiro); também eram associados, entre outros: Raimundo de Souza Cunha e José de Ribamar Darwich.

Naquele grupo do Instituto Etnográfico do Pará, encontravam-se: Curt Nimuendaju, Frederico Barata, Machado Coelho, Expedito Arnaud, Nunes Pereira, Paulo Plínio Abreu, Peter Paul Hilbert, Arthur Napoleão Figueiredo, Mário Sampaio, Armando Bordalo da Silva, Bolívar Bordalo da Silva. Em 1955, chegou ao Museu Goeldi, proveniente do Museu do Índio-SPI, Rio de Janeiro, o antropólogo Eduardo Galvão, que assumiu a direção das pesquisas antropológicas da entidade. O antropólogo carioca – um dos “pais fundadores” da antropologia social e cultural científica em nosso país – dirigiu esse setor do Mus. Goeldi, durante vinte anos, ou seja, até o advento de sua morte [sou autor de um livro sobre a obra de Galvão: “Eduardo Galvão – Índios e Caboclos”, 2007]. A partir da assunção de Galvão, a Divisão de Antropologia do Mus. P. “E. Goeldi” passou a ser um dos mais importantes centros de pesquisa do país, nos campos da etnologia/etnografia, arqueologia indígena, linguística indígena, culturas indígenas material e não material, e museologia de artefatos indígenas. (NOTA: Na segunda metade dos anos sessenta, o autor deste artigo trabalhou neste núcleo de pesquisas do Museu Goeldi, no setor etnológico/etnográfico, como estagiário, durante três anos; em seguida, mudou-se para São Paulo, onde deu prosseguimento às suas pesquisas antropológicas em sociedades e culturas indígenas, mas, também, ao seu labor poético).

[Autorizo a publicação deste texto]

  • Professor titular (Antropologia), aposentado, da UFPA; mestre e doutor em CS (Antropologia); advogado (OAB/SP) e antropólogo (membro efetivo da Associação Brasileira de Antropologia-ABA); membro efetivo da União Brasileira de Escritores-UBE/SP e sócio correspondente da UBE/RJ; membro emérito da Academia Paraense de Ciências; é membro de diversas outras entidades culturais e profissionais; tem livros publicados nas áreas da Antropologia, memória, testemunho e poesia. São alguns de seus livros: “TUXÁ – Índios do Nordeste”, Selo Universidade – Antropologia, Ed. Annablume,, São Paulo, 1997; “Eduardo Galvão – Índios e Caboclos”, Ed. Annablume, São Paulo, 2007; “Índios do Tocantins”, Ed. Valer, Manaus, 2009; “A Vontade de Potência”, Chiado Ed., Lisboa, 2012; “Militares na Política do Pará e outros registros do testemunho e da memória”, Ed. Paka-Tatu, Belém, 2014; “Poemas de Amor e de Vida” (pseudônimo nesta publicação: Orlando Torquato Sampaio da Silva), Ed. CBJE, Rio de Janeiro, 2015;“ Poiesis”, Helvetia . Rio de Janeiro, 2015; “Pensamento – Vida – Poesia”, Helvetia Ed., Rio de Janeiro, 2018; “EROS na Poesia”, Ed. Somar, Porto Alegre, 2018, “Episteme e Emoções – Poesias”, Scortecci Ed., São Paulo, 2020.

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