Lembrei esta semana da minissérie A Honra Perdida de Christopher Jefferies, com o brilhante ator Jason Watkins.
O filme, baseado em fatos reais, narra a história do professor aposentado que é acusado de um crime que não cometeu. Durante os três dias que fica preso, a midia britânica destrói a honra de Christopher, que passa a viver confinado na casa de uma família amiga.
A vítima da maldade dos meios de comunicação consegue na justiça pedidos de desculpa e indenização. A partir daí passa a encampar a luta pela regulação da mídia.
Os questionamentos do drama nos levam a refletir sobre a imprensa no Brasil, onde os órgãos de comunicação massacram a honra e a vida de inocentes, sem qualquer intervenção legal para corrigir os danos. O judiciário é leniente com a difamação proposital de gente de bem pelos barões da mídia corporativa.
A existência de um Conselho Regulador é imperiosa para consecução da justiça e preservação da honra e imagem dos cidadãos. Não se trata de censura, mas de impor limites ao dono da empresa, que ao instrumentalizar o meio de comunicação de acordo com seu interesse político e econômico representa o verdadeiro censor.
Numa determinada cena do filme, o protagonista fala: não é possível que a decisão do que é certo ou errado fique nas mãos do dono do jornal.
Não há liberdade de imprensa quando meia-dúzia de patrões diz o que deve e o que não deve ser publicado. E hoje ainda existe o agravante das fake news, usada para destruir reputações e manipular opiniões.
O mercado não tem ética e faz dos meios de comunicação uma empresa qualquer com fins lucrativos. O que agrava a situação é o uso político e cultural dessa mídia, que tanto pode tramar contra a democracia, como já ocorreu no Brasil em 1964 e 2016, como serve para construir valores morais e culturais anticivilizatórios.
É sim necessário criar um ambiente de debate sobre a liberdade de imprensa, a democracia e o papel dos meios de comunicação na construção da cidadania e do desenvolvimento humano. Afinal, o que seria da liberdade de expressão e da própria democracia se entendermos o poder dos barões da mídia como intocável?
Não existe imprensa livre com o capital determinando a pauta.
Lúcio Carril
Sociólogo
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