Produto exclusivamente humano, a História resiste à reiterada tentativa de atribuir-lhe qualidades divinas. Não obstante a teimosia inspirada na profunda ignorância, os fatos contrariam, às vezes adiando, outras matando de vez esse propósito. Assim, as sociedades vão encontrando seus próprios caminhos, trilhados quase sempre sob constante ameaça. Esta, sempre apegada ao passado mais remoto, que não seria exagero considerar pura barbárie. Daí o armamento da população, o constrangimento sofrido pelos que ousam discordar, a tortura como expediente oficial, o impedimento à livre circulação de pensamento, as restrições à transparência que deveria cercar os atos oficiais. Quando há obstáculos, artifícios de toda ordem são utilizados, em busca de atualizar os tempos do talião. Os massacres tantas vezes praticados, no Eldorado dos Carajás, como na favela do Jacarezinho, se não esgotam a extensa relação de fatos-irmãos, servem para descrever a extensão e a gravidade do fenômeno. Ele ocorre no ambiente urbano, como tem lugar no ermo da floresta. Generaliza-se, aos poucos alcançando o status de fato natural. A morte matada confundindo-se com a morte morrida. Mestra da vida, conforme a via o romano Cícero, e Tucídides o repetiu, a História não perdoa. O que nela encontra o interessado, nem sempre corrige os erros cometidos pelas gerações anteriores ou suscita preocupações e objetivos diferentes. A inclinação pela barbárie impede tais resultados. Em especial quando a ignorância explode na plenitude e na profundidade cabíveis apenas na barbárie. Lá, onde a escuridão predomina, todo valor moral inexiste, todo bom sentimento não prospera. Animais são todos os habitantes da caverna, entregues à tarefa única e exclusiva de sobreviver. Impossível, portanto, sequer falar em História, pelo menos com a acepção referida pelo orador romano e seu seguidor. Pois é desse campo do conhecimento (este outro conceito rejeitado pela ignorância)o registro de todo e qualquer fato de que o Homem partícipe, ativa ou passivamente. Aí, estamos diante da narrativa a que se dá o nome historiografia. A História sendo a substância, esta última sendo sua contação. Dentre o muito que, século após século tem sido narrado, quanto a escuridão facilita, favorece, promove, estimula e multiplica a prática de toda sorte de atos atentatórios à humanidade. Por isso, as ditaduras são o ambiente mais propício às práticas desumanas e corruptas. É nelas que se dão as mais graves agressões aos direitos individuais, recuo inegável até em relação ao tempo em que a liberdade, a igualdade e a fraternidade transformaram-se em lema da revolução burguesa. Os dias vividos no Brasil de hoje deixam isso muito claro, confirmando quanta ironia a História traz consigo.
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