As recentes eleições no Reino Unido e na França fizeram renascer sonhos que pareciam sepultados. Por enquanto, as avaliações se têm prendido aos números, sem que emerjam e ganhem a luz solar questões de fundo subjacentes aos processos eleitorais. Não raro, as análises vêm recheadas de vontades e preferências, mais que da observação das prováveis razões do Brexit que faz água e das políticas de Macron, ambas inspiradas nos (des)valores de um liberalismo avesso à liberdade. Quando muito, a admissão da liberdade como privilégio de uns poucos. Falta aos analistas, além do desapego a teses que a realidade desmente todo dia, encontrar o fio condutor. Aquele vínculo presente pelo menos nas duas nações recém-saídas do processo eleitoral, no que elas têm de comum. Ambas, sabe-se, vinham orientadas pela cartilha liberal, com todas as consequências que a fazem produtora da mais perversa e selvagem - para não dizer desumana – desigualdade, jamais experimentada pela sociedade dos que nos achamos animais superiores. O acréscimo de dois anos de trabalho aos que anseiam por aposentar-se na França e as políticas criadas e postas em práticas desde Margareth Tatcher até Boris Johnson têm sido mencionadas, por enquanto, apenas de passagem. Carecem, portanto, de aprofundamento, mas não são fenômenos capazes de esgotar, por si mesmos, o elenco de problemas resultantes das políticas públicas exigidas pela atual fase do capitalismo. É difícil e arriscado dizer que os exemplos do Reino Unido e da França logo serão multiplicados. Não o é, porém, encontrar fortes argumentos para abrir amplo e produtivo debate sobre a necessidade de serem encontradas novas formas de relacionamento social, menos excludente, menos perverso – enfim, um caminho para a realização do tríptico ideal: liberdade, fraternidade, igualdade. Mesmo a pátria em que a expressão foi criada não se vem mostrando fiel à pregação dos revolucionários de 1789. Mais de 7 séculos decorridos, desde que a monarquia inglesa teve contido o autoritarismo original, os britânicos não resistiram às práticas produtoras da fome, da miséria, da doença, do desemprego, da violência e da mais ignóbil exploração do semelhante. Afinal, mesmo o tímido sonho da União Europeia só se faz aparente no funcionamento de uma gendarmeria chamada OTAN, nada mais, nada menos que o braço armado de uma nação que se pretende democrática mas não tem feito outra coisa que revelar sua pretensão de mandar no Planeta. Mais que os números tão atraentes para a grande maioria dos econometristas que simulam conhecimento de Economia, uma ciência definitivamente social, são os fundamentos desse sistema que se espalhou pelo Mundo que devem ser postos em causa. Para isso devem ser aproveitados os dois mais recentes episódios eleitorais, simples ponto do que pode ser a condução da sociedade humana para um caminho jamais experimentado. Em que a liberdade reprima a mentira dita em seu nome. Em que a fraternidade substitua a competição que leva à guerra e dela precisa, para impor a desigualdade. Em que a igualdade de oportunidade seja dada a todos, sem qualquer restrição. Os problemas de imigração, em grande medida resultantes da superação do colonialismo que condenou multidões reunidas em grande parte do Planeta, é exemplo capaz de resumir a quanto nos trouxe o liberalismo sem liberdade, a competição à moda da cadeia alimentar, a necessidade da guerra.
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