Ânsia de vômito
- Professor Seráfico
- 28 de jan. de 2021
- 1 min de leitura
Dialeticamente organizado, o Universo impõe a verdade como resultado de processo em que é arriscoso (como diria Riobaldo) dizer onde há o bem, onde está o mal. Guimarães Rosa e seu célebre interlocutor marcaram as páginas de um dos mais importantes romances da literatura brasileira, atentos à observação de Ortega Y Gassett: o homem e suas circunstâncias. Estas se revelam tão fluidas e movediças, quanto menores a convicção e os valores que orientam a conduta humana. Por demasiado apego ao circunstancial, políticos mais que os outros, desprezam outra díade fundamental para estar-no-mundo: História e biografia. Quando esta tem no oportunismo ou na vaidade – às vezes juntas – sua base, quaisquer que sejam os interesses satisfeitos, a outra pune com o opróbrio e o esquecimento. É isso que desencadeia muitas das minhas atuais reflexões sobre certas lideranças políticas, que vi crescerem como saudáveis promessas de renovação. Via-as, ontem, proclamando seu amor à causa e à coisa pública, mas não demorei vê-las de mãos dadas com quem assegurou entrada pela porta dos fundos da História. Não me incomoda a que preço, dada minha recusa em admitir que todo homem tem o seu. Nem me passa pela cabeça tratar-se da raposa tomando conta do galinheiro. E logo me vêm à memória o flautista de Hamelin e seus seguidores, ratos todos. Menciono o fato e não sigo adiante, pois chega a hora em que o nojo impede o estômago de portar-se com elegância.
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