Registra-se na História precisa e preocupada frase de Osvaldo Mangabeira, político brasileiro da primeira metade do século XX. Segundo aquele ex-governador da Bahia, a democracia é uma tenra planta, que precisa ser regada sempre. Vivemos hoje momento excepcional para lembrar e interpretar as palavras do engenheiro e professor nascido em 27 de agosto de 1896 e morto em 29 de novembro de 1960. Sobretudo porque depois de sua morte experimentamos outra ditadura, colocando a de Getúlio Vargas (1937-1945) no chinelo. Tanto no que toca às atrocidades pelas quais os registros responsabilizam Felinto Muller, quanto pela tentativa de iniciar o processo de integração do País à economia mundial, sem perda de sua soberania. Nos quartéis e delegacias de polícia, a tortura corria solta, enquanto na vida social a censura punha seus agentes dentro das redações dos jornais. O rompimento com o eixo São Paulo-Minas Gerais ensejava o namoro com outro eixo, o que Alemanha, Japão e Itália constituíram, para guerrear o resto do Mundo. Quatro anos depois da morte de Mangabeira, um dos fundadores da União Democrática Nacional, manifestação inteligente da direita brasileira de então, instalou-se outra ditadura. Neste caso, em movimento iniciado, curtido e elaborado desde 1954, quando o suicídio do já Presidente eleito pelo povo forçou o adiamento do projeto golpista. O povo, nas ruas, rejeitou a intenção de que Carlos Frederico Werneck de Lacerda foi o mais avultado porta-voz. A História conta isso segundo diversas orientações ideológicas, nenhuma delas capaz de esconder o uso da tortura e do assassinato de divergentes, nos porões ou mesmo nas ruas, em exercícios simulados de repressão a inimigos agressivos ou em combate armado. Pelo que sabemos, qualquer tentativa de reproduzir o passado não irá além da farsa. Mesmo se - e quando - a tortura é manifestamente aplaudida, estimulada, promovida. As condições sociais são diferentes, mas isso não basta para regar a plantinha frágil que continua a ser a democracia à brasileira. É compreensível que os partidos políticos desejem participar do próximo governo, menos pelas promessas do Tripresidente eleito. Pesa mais a necessidade de manter de pé, ao menos durante boa parte do período em que a Lula caberá dirigir o País, a frente ampla que suas sensibilidade e habilidade souberam construir. Definir se a ocupação deste ou daquele Ministério por qualquer dos partidos que lhe assegurarão base suficiente para levar adiante as políticas anunciadas - todas elas promissoras com o aval de muitas já terem sido efetivadas por ele mesmo - ou fazer do programa de governo um mosaico das teses defendidas pelas legendas, é reservado à decisão dos dirigentes partidários e ao Presidente. É preciso, mais que tudo, não desiludir nem arrefecer a esperança depositada por 60 milhões de eleitores, na nova fase que 1 de janeiro de 2023 marcará. A fragilidade da democracia, como a definiu Mangabeira, não pode ser regada com água poluída. Este é uso conhecido e ninguém diria capaz de resolver os problemas que Lula encontrará em seu terceiro mandato presidencial.
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