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Foto do escritorProfessor Seráfico

Às armas (maus) cidadãos!

Um dos versos mais fortes e sugestivos da Marselhesa sugere ao terceiro estado (as classes baixas da França nobiliárquica) armar-se, para combater a aristocracia. Todos sabemos como terminou tudo aquilo, se é que ainda não podemos esperar outras consequências temporãs da Revolução Francesa. Cabeças foram separadas dos pescoços, por obra de um médico e inventor chamado Joseph-Ignace Guillotin. A canção de Claude Joseph Rouget de Lisle mobilizava os franceses para derrubar o autoritarismo, não sendo por acaso que a História Contemporânea tem na queda da Bastilha seu momento inaugural. No Brasil destes difíceis tempos, o apelo opera no sentido contrário. O chamado às armas é dirigido àqueles que. beneficiários de desigualdade cuidadosamente planejada e administrada, pretendem fazer-nos recuar, não à chamada Idade Moderna, mas, quando pouco, à Idade Média. Levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado dá bem a medida em que avança o regresso à barbárie. Mesmo instituições criadas para reduzir os conflitos sociais através do diálogo e do entendimento, como o Poder Legislativo, participam dessa caminhada insana. Não apenas outorgando medalhas e rendendo homenagens aos que, armados, cometem crimes de toda natureza, como afrouxando o controle do comércio, porte e uso de armas. Com relação ao mau uso de armas, a conduta das organizações ligadas à segurança pública não deixa mentir. Elas concorrem, hoje, para engordar as trágicas estatísticas a respeito do setor. Quando governadores - o de São Paulo como o protótipo - tentam esconder os maus feitos de agentes mal-intencionados, e condenam e tentam evitar o uso de câmeras nos uniformes, os eleitores mandam para a Câmara dos Deputados parlamentares que não sabem parlamentar. Eles desejam, sim, o sangue mesmo dos que sufragaram seus nomes e o tornaram representantes populares. É isso o que indicam os discursos pró-armas, 69% dos 376 pronunciamentos, contra 29% dos que preferem o uso de argumentos, não de projéteis mortíferos, A conta só fecha se considerarmos os que, seja qual for a razão, sobem no muro. Irão com quem conseguir matar maior número. Há, porém, quem se compraza com o morticínio patrocinado pelos que dominam. Até o dia em que o sangue que escorre na rua é o mesmo que flui nas artérias e veias dos defensores do armamentismo.

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